Hoje completa exatamente um ano de um escândalo que deixou marcas na Igreja Católica Apostólica Romana e revoltou a sociedade que assista Padres serem acusados de abusar sexualmente de coroinhas, em Arapiraca, Agreste de Alagoas.
A reportagem do CadaMinuto voltou à cidade para saber como vivem os ex-coroinhas, padres e os andamentos dos processos de extorsão, calunia e pedofilia que estão sendo analisados pela justiça.
Um ano se passou e o escândalo praticado por autoridades religiosas não foi esquecido pela sociedade arapiraquense.
Monsenhores Luiz Marques Barbosa, Raimundo Gomes e o padre Edílson Duarte todos pertencem à mesma diocese de Penedo, comandada pelo bispo Dom Valério Breda. Após as denúncias serem divulgadas na imprensa, a igreja católica suspendeu as atividades religiosas dos acusados.
O fato ganhou dimensão quando os coroinhas divulgaram um vídeo envolvendo o monsenhor Luiz Marques, mantendo relações sexuais com um dos corinhas Fabiano Ferreira, ainda menor de idade quando as imagens foram gravadas. Cícero Flávio e Anderson Farias foram vítimas dos sacerdotes Raimundo Gomes e Edílson Duarte.
O jornalista Roberto Cabrini do SBT fez dois programas que acabaram premiados e escancarou ao Brasil tudo que vinha acontecendo em Arapiraca, até uma CPI presidida pelo senador Magno Malta foi montada e esteve na cidade alagoana transformando o escândalo em espetáculo midiático.
Acusados
Monsenhor Luiz Marques continua morando na casa que foi construída com dinheiro dos fiéis, no bairro Alto do Cruzeiro, próximo a igreja São José onde trabalhava e continua recebendo o salário de aposentado como capelão da Polícia Militar de Alagoas. Raimundo Gomes, mora numa residência alugada, no bairro Eldorado.
O CadaMinuto esteve nas casa do monsenhor Raimundo Gomes, mas ninguém foi encontrado para ser entrevistado. Uma vizinha de Raimundo Gomes falou que o monsenhor vive isolado e cumprimenta os vizinhos pouquíssimas vezes. “Ele [Raimundo] entra e sai à maioria das vezes sem falar com ninguém”, que preferiu não se identificar com medo.
O bispo Valério Breda, tinha conhecimento segundo o ex-promotor, Sílvio Viana que Raimundo teria praticado outro crime de pedofilia, no município de Penedo, onde trabalhava, antes de celebrar missas em Arapiraca.
Padre Edílson Duarte que trabalhava na Matriz Nossa Senhora do Bom Conselho deixou Arapiraca com a família para morar em Maceió, após relevar durante a CPI da Pedofilia que era homossexual e teria sido abusado sexualmente quando tinha 12 anos de idade. A reportagem apurou que os três religiosos continuam recebendo salários custeados pela diocese de Penedo.
Ex-coroinhas
A reportagem esteve na residência de cada um dos ex-coroinhas para saber como vivem após um ano das denúncias. Ainda com medo preferiam não comentar muita coisa, mas estão confiantes para que a justiça seja feita.
Fabiano Ferreira, o que aparece no vídeo mantendo sexo com o monsenhor continua morando, numa casa humilde, no bairro Alto do Cruzeiro com os pais.
A pedido dos familiares, Ferreira evita sair com frequência pelas ruas da cidade com medo de ser criticado. Anderson Farias também reside no mesmo bairro e segue no mesmo ritmo de Fabiano, isolado dentro de casa.
O ex-coroinha Cícero Flávio tenta levar a vida normalmente, sem esquecer dos abusos sexuais cometidos pelos religiosos. Flávio Atualmente mora em Maceió com a tia e tenta sustentar uma filha comercializando CD’s, DVD’s no Centro da capital. “Ninguém consegue mais um emprego digno. Tenho que enfrentar a vida como está sendo”, falou Cícero.
Processos
A justiça analisa os processos de extorsão, calunia e pedofilia. O processo de calunia existiu a pedido do monsenhor Luiz Marques que afirmou em depoimento que o vídeo teria sido uma armação praticada pela Casa da Esperança dirigida por Carmelita Leite de lima, os filhos Alterman Lima e Abelardo José Leite de Lima. O processo foi arquivado por não existirem provas.
De acordo com os ex-coroinhas, no fim do mês de fevereiro desse ano, o promotor José Neto pediu o arquivamento do processo de extorsão contra os ex-coroinhas também a pedido dos religiosos. O processo não prosseguiu por falta de provas.
O processo de pedofilia ainda não foi julgado e está sendo apreciado pela 01ª Vara da Infância e Juventude de Arapiraca.
O juiz que acompanha o caso é João Luiz de Azevedo. Não existe data marcada para o julgamento do processo que está sendo esperado pelos familiares dos ex-coroinhas que estão esperançosos para que os sacerdotes sejam punidos.
Pressão da sociedade
A CNBB decidiu criar uma cartilha para saber o que fazer durante denúncias de abusos sexuais dentro da Igreja Católica. O assunto foi pensado depois dos escândalos envolvendo monsenhores e padres, na cidade de Arapiraca, Agreste de Alagoas.
O órgão pediu perdão e anunciou que providências serão tomadas, e garantiu apuração rápida e uma punição maior, ao invés de transferências para outras paróquias.
Dentro da cartilha, há o comprometimento de ajudar a polícia e apoiar as punições previstas em lei. “Quanto se trata da questão do pecado, a atitude da igreja é de perdão e misericórdia, mas diante do crime praticado que as penalidades sejam aplicadas, sejam as penalidades canônicas eclesiásticas como as penalidades civis”, declarou Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB.
Uma das novidades implantadas na igreja, é em questão das seleções de padres: O seminarista vai passar por avaliações permanentes sobre o equilíbrio moral, psicólogo e espiritual. Especialistas de fora da igreja vão ajudar nas formações dos sacerdotes e quem apresentar problemas com sexualidade será encaminhado a um centro de tratamento.
O evento contou com a participação do representante do Papa Bento XVI, o cardeal Dom, Cláudio Hummes. “A igreja vai apoiar as vítimas, seja a aquelas necessitam de indenização e de formas de ajuda”, disse Hummes.
FONTE:CORREIO DO POVO